Primeiro Belga “Tupiniquim”…

Os Belgas estão presentes e ativos no Brasil há muito tempo!

No século XIX, várias colônias agrícolas belgas foram fundadas no Brasil.

Nossos caros amigos belgas contribuiram muito na construção das estradas de ferro brasileiras e sempre foram muito atuantes no Brasil, no setor do comércio, da indústria, do trabalho social, da religião, da arte, da diplomacia e do esporte.

Um momento chave das relações belgo-brasileiras foi a viagem do rei Albert Ier e da rainha Élisabeth, que foram os primeiros chefes de Estado estrangeiros a visitarem o Brasil independente, em 1920 e foram recebidos como “heróis”.

Olhando um pouco para a história da Bélgica, fica mais fácil compreender como, finalmente, eles “descobriram” o Brasil!

Até o século XIX, o território que se tornaria a Bélgica sofreu com diversas guerras e foi sucessivamente “borgonhês”, “espanhol”, “austríaco”, “francês” e “holandês”.

Por volta de 1822/25, a Europa vivia uma grande crise econômica em função da Revolução Industrial, que provocou desemprego em massa, fome e o empobrecimento da população rural.

O Brasil, com pouco mais de 20 anos de independência, atraia a atenção pela abundância de terras férteis e riquezas em minérios, principalmente carvão, ferro e ouro mas com grande carência de mão-de-obra, visto que a “Lei Feijó” (07/11/1831) proibia o tráfico de escravos e considerava livres todos os africanos que chegassem ao Brasil a partir daquela data.

Para muitos, esta lei foi criada apenas numa tentativa de se nivelar com a Inglaterra, que havia proibido o comércio escravo 55 anos antes e já trabalhava com assalariados desde então.

Sem nenhuma necessidade de explicação, foi nesta época que surgiu a expressão “para inglês ver”…

E somos nós, os brasileiros, que “estamos vendo” até hoje!

Bem, voltemos…

Em 1830, a Bélgica se tornou um país independente dos Países-Baixos (Holanda), mas não pôde pretender a nenhum território pertencente ao “Império Colonial Néerlandês”.

Após ter ativado sua “rede de contatos” para garantir sua sobrevivência e o respeito às fronteiras de seu novo país, o rei Léopold Ier se sentiu “apertado” dentro do seu pequeno território.

Convencido de que a expansão desejada só seria possível através do “poder colonial”, ele apoia cerca de 50 iniciativas (comerciais, privadas, governamentais ou mistas).

O governo brasileiro, por sua vez, tinha interesse em povoar o litoral que estava sendo alvo de muitas expedições espanholas, no Sul, e holandesas, no Norte/Nordeste e passou a incentivar a formação de núcleos colonizadores.

A região Sul era o alvo principal das empresas colonizadoras por causa das terras ainda incultas, o clima semelhante ao europeu e a possibilidade de desenvolver outras culturas agrícolas em substituição a cana-de-açúcar, em franca decadência no Brasil.

Na região que mais tarde viria a ser ocupada pelos belgas, havia um pequeno povoado, com pouco mais de 1.100 habitantes, fundado por volta de 1820.

As terras eram praticamente todas de posse do Coronel Agostinho Alves Ramos.

Além destes habitantes, havia muitos índios, ou bugres como eram conhecidos, nas matas.

Na medida em que os imigrantes foram chegando e se estabelecendo nas colônias, os silvícolas foram sendo expulsos para o interior e, por fim, dizimados pelos caçadores.

E finalmente, nosso “tupiniquim” com sotaque…

Personagem central da colonização belga em Santa Catarina, a importância de Van Lede para o desenvolvimento do Vale do Itajaí é fundamental!

Charles Maximiliano Luiz Van Lede  (Bruges, 20/05/1801 – Bruxelas, 19/07/ 1875, sepultado no cemitério da Igreja de Santa Gúdula) estudou em Paris, prestou serviço militar na Espanha, como um soldado mercenário e terminou por se  rebelar contra a tirania absoluta do rei Fernando VII.

Em 1830, com a independência da Bélgica, retornou ao país para ser recrutado como oficial de engenharia.
Enviado em missão militar ao México, Van Lede viajou para as Américas como “técnico em minas e tesouros ocultos”.

Esteve na Argentina e depois no Chile, onde trabalhou para o governo daquele país como engenheiro de construção de pontes, estradas e portos.

Em 1842, já a serviço da Societé Commercial de Bruges e proprietário da “Compagnie belge-brésilienne de Colonisation”, Van Lede desembarcou no Brasil.

A sua missão era avaliar o solo e as florestas catarinenses, para a exploração de ferro, carvão e outros minérios.

Em 31 de março de 1842,  junto com seus compatriotas Joseph Philippe Fontaine e Guilherme Bouliech, fez uma viagem de reconhecimento, tendo como guia o escrivão policial José Alves de Almeida.

Van Lede foi o primeiro a realizar uma viagem de cunho científico na parte navegável do Itajaí-Açu.

Durante esta viagem ele alimentou a ideia de um grande projeto colonizador, com a finalidade de explorar a mão de obra.

Em agosto de 1844, partia de Ostende, na Bélgica, o navio Jan Van Eyck, com 114 imigrantes flamengos, a maioria da cidade de Bruges mas nem todos desembarcaram no Brasil.
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Em 27 de novembro de 1844, os primeiros 90 colonos belgas desembarcaram em uma pequena ilha que, se ainda existisse, ficaria bem no meio do rio Itajaí-Açu, de frente à igreja matriz São Pio V.

A cidade foi “batizada” de Ilhota… a primeira –  e uma das poucas – colônias belga do Brasil.

Em 6 de julho de 1844, Van Lede e os irmãos Lebon adquiriram uma área de 2.150 hectares do cura padre Rodrigues, no local chamado Prainha.

Em 21 de novembro de 1844, adquiriram outra área, de 1,2 mil hectares, de dona Rita Luisa Aranha.
Depois, em 2 de janeiro de 1845, compraram as terras do tenente coronel Henrique Flores, uma área de 2.150 hectares.

Em janeiro de 1845, já havia uma segunda colônia, dissidente da primeira e acrescida pela chegada de outras 60 famílias, trazidas também por Van Lede.

Retornou para Bélgica em maio de 1845, deixando a “colônia” sob a direção de Joseph Philipp Fontaine e nunca mais retornou.

Na Bélgica, ocupou cargo no Conselho Provincial de Flandres em 1848.

Faleceu em 1875, deixando suas terras no Brasil como doação ao Hospital de Bruges.

Quando o hospital enviou um representante – M.Van Dye – com uma procuração para vender as terras, gerou uma violenta reação dos colonos.

A partir daí, a colônia começou a entrar em decadência e os habitantes espalharam-se por toda Ilhota.

Não se sabia mais quais eram os limites das terras da colônia.

Muitas famílias belgas foram embora para outras localidades ou retornaram para sua terra natal.

Ficaram apenas os Maba, os Brockveld, os Maes e os Castellain.

Agora o município está reafirmando suas origens e buscando atrair turistas nesta pequena “Bélgica brasileira”.

Em setembro de 2010 a cidade de Ilhota realizou a 2a ExpoBelga, tendo tido um grande sucesso, com mais de 15 mil visitantes que puderam, inclusive, assistir a uma bela apresentação do grupo de dança típica Belga.

O que era para ser uma rica província mineral, baseada na extração do ouro, tem hoje sua riqueza expressa no nosso maior polo têxtil de moda íntima e de praia.

Pode-se concluir que Van Lede foi realmente um “homem de visão” e que, 174 anos depois, seu empreendimento deu muito certo!!!

E agora, a questão seguinte: quem terá sido primeiro brasileiro a desembarcar, oficialmente, em terras belgas???

Beijocas mil e até o próximo número!

P.S.: Para quem quiser visitar a cidade de Ilhota – www.ilhota.sc.gov.br/turismo

Cet article a été initialement publié dans la revue Revista Emigrar

 

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